sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Revelações

Estes dias sinto que me libertei de um velho e prejudicial hábito para mim: tentar fazer amizades. Nada contra ter amigos, mas tentar fazer amigos de forma nada convencional e com pessoas que não compartilham de interesses em comum é uma boa maneira de afastar tudo que a vida pode trazer de bom.
Durante muito tempo, tentei fazer amigos no bate-papo, na vã ilusão de que surgiria alguém que fosse agradável e com uma possibilidade de relacionamento futuro. Tudo que encontrei no bate-papo foi pessoas que por algum motivo não poderia seguir num relacionamento estável, saudável e público. Com o tempo me acostumei a viver na clandestinidade de encontros furtivos, e o tempo passando e eu me desgastando cada vez mais.
O bate-papo não foi bom para mim, foi apenas um atraso de vida. O tempo que fiquei no bate-papo deixei de me interessar em conhecer pessoas naturalmente, tentei me adaptar a cada pessoa que conversava, violei meus princípios inúmeras vezes para agradar a outra pessoa.

Minhas esculturas são um capítulo a parte nessa história. Nunca tive o reconhecimento do pessoal do bate-papo que mereciam, com apenas uma exceção, as outras pessoas não souberam aproveitar a oportunidade que eu estava dando de chegar ao meu coração por intermédio das esculturas. Essas obras representam muito pra mim: representam a beleza dos detalhes, a busca pela perfeição, a inovação para poder ser fiel a imagem idealizada mentalmente. Se alguém não percebe a importância de algo que falo insistentemente, é porque esta pessoa não tem sintonia de pensamento comigo e já condenou qualquer possibilidade de relacionamento futuro (seja ele de que forma se torne). Comprei câmera digital, criei Orkut e blog pra divulgar minhas obras e, mesmo assim, a maioria das pessoas que conversei não percebeu a importância desse esforço em me apresentar através das obras.

Hoje estou completamente só, com algum contato esporádico por telefone com alguém que se importa comigo, mas sei que o contato que desejo nunca poderia ter acontecido por telefone. Por este motivo me sinto livre para escrever o que desejar em meu blog pesoal pois aceditoque só entre espontaneamente para ler que tier interesem em me connhecer mais a fundo (fato que acredito que neste momento não haja ninguém com tamanho interesse).

Sempre me perguntam por que eu nunca casei, se quero ter filhos, onde estão meus amigos. Neste artigo tentarei responder algumas das questões que, se não afligem a humanidade, pelo menos revelam um pouco mais de mim.

Não casei ainda por falta de oportunidade. Há muito tempo atrás, eu não pensava em ter alguém, talves por idealizar demais, talves por desconhecer meus próprios sentimentos. O fato é que hoje estou convicto que DEUS é quem tem que me dar oportunidade de conhecer alguém de maneira natural. Já tentei por diversos meios arranjar uma companheira, mas todas as tentativas falharam.

Busco alguém que tenha identidade de interesses comigo. Mas se eu não souber quais são esses interesses, como vou saber se a pessoa que conheci será ideal pra caminhar na estrada da vida comigo? Dizem que não sabemos com quem estamos nem mesmo depois de casado, coisa que eu discordo.

Sinto uma angústia por ter muito pra dizer a alguém que nem conheço ainda. As pessoas que tenho contato não tem interesse ou paciência para me entender. Parece que estão todos preocupados apenas com os próprios problemas, o que leva a minimizar os problemas alheios.

Terei filhos se conhecer uma boa mulher e que queira educá-los comigo,e se eu conhecer alguém ainda na idade de ser pai.

Meus amigos estão na mesma situação que minha companheira: DEUS é quem terá de me apresentar.
Conclui um curso recentemente, onde fiz muita camaradagem. Pensei que lá conseguisse manter algum contato pra posterior amizade, mas o fato é que nenhum contato evoluiu pra uma amizade. Mandei e-mails pro pessoal por duas semanas e não tive respostas, dai conclui que desse grupo é melhor que eu os esqueça de vez.
Faço muito esforço pra conseguir falar com alguém.
Amizade de batepapo é só perda de tempo, é inútil. As pessoas faltam com a verdade frequentemente. E no mundo real, as pessoas estão apavoradas com a violência, fator que tem contribuído pra que não haja entrosamento com pessoas estranhas de fora do grupo como eu.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O CORVO - de Edgar Allan Poe

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse,
"está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro!
Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais
-Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais
-Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.
"Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto
,Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse.
"Parte!Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!