quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

ESTA VIDA...

Esta vida

Um sábio me dizia: "Esta existência
não vale a angústia de viver. A ciência,
se fôssemos eternos, num transporte
de desespero, inventaria a morte!
Uma célula orgânica aparece
no infinito do tempo: e vibra, e cresce,
e se desdobra, e estala num segundo...
Homem, eis o que somos neste mundo!"
Falou-me assim o sábio e eu comecei a ver,
dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Um monge me dizia: "Ó mocidade,
és relâmpago, ao pé da eternidade!
Pensa: o tempo anda sempre e não repousa.
Esta vida não vala grande coisa.
Uma mulher que chora, um berço a um canto,
o riso às vezes, quase sempre o pranto...
Depois, o mundo, a luta que intimida,
quatro círios acessos – eis a vida!"
Falou-me assim o monge e eu continuei a ver,
dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Uma mulher me disse: "Vem comigo!
Fecha os olhos e sonha, meu amigo!
Sonha um lar, uma doce companheira,
que queiras muito e também te queira...
Um telhado... Um penacho de fumaça...
Cortinas muito brancas na vidraça...
Um canário que canta na gaiola...
- Que linda a vida lá por dentro rola!"

Pela primeira vez eu comecei a ver,
dentro da própria vida, o encanto de viver!

Guilherme de Almeida

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