sexta-feira, 19 de maio de 2017

Complexo de faraó

Quando eu era estudante, eu achava um absurdo um faraó achar-se um deus e querer levar todos os seus tesouros para o túmulo. Como um homem evidentemente mortal poderia achar que seria um deus? Mas depois de tantos anos formado foi que eu compreendo o porquê dele pensar assim.
Numa época em que a maioria da população era de agricultores, pescadores e artesãos analfabetos, vivendo na linha da pobreza e sem um plano de aposentadoria, onde teriam que trabalhar até a hora de morrer, fica fácil eles verem um soberano, com poder e riquezas como um ser superior. Além disso, esse soberano era ensinado desde a sua infância que tinha ascendência divina e que um dia voltaria para seu lugar de origem, junto aos outros deuses, já que o Egito e outras sociedades da época eram politeístas (acreditavam em vários deuses, como até hoje em algumas culturas).
Mas que importância isso tem na sociedade de hoje, tão informatizada? Toda a importância. Embora tenhamos acesso a informação como em nenhuma época da história, as pessoas nunca estiveram tão apáticas com o aprendizado. A indiferença das sociedade pelo conhecimento em geral chega a ser estarrecedor. Temos a chance de aprender muito com o acesso a informação, mas os debates em torno de qualquer tema estão muito empobrecidos.
As celebridades do momento comportam-se como o faraó, sentindo-se imortais e eternas, mas sua fama costuma durar pouco, uma ou duas temporadas, e depois vem no esquecimento do público e são substituídos por outras celebridades temporárias, e o ciclo reinicia-se indefinidamente.
E, assim como os faraós eram enterrados com seus tesouros, muita gente parte desta vida levando para o túmulo todo seu conhecimento e experiência de vida, sem compartilhar suas histórias com as gerações seguintes, condenando estas novas gerações a repetirem erros que poderiam ter sido evitados, se tivessem conhecimento das consequências de seus atos, através de exemplos vividos por outras pessoas. Não deixam um legado, um registro de sua passagem nesta existência, e caem no esquecimento.
Quando eu estudava Historia Antiga e Medieval eu criticava os faraós por acreditarem que eram deuses. Eu achava um absurdo alguém achar que um moral fosse um Deus, assim como se isolar em um castelo como faziam os senhores feudais na Idade Média. Mas o que são as pessoas poderosas ou as celebridades de hoje senão uma forma de alguém achar que são alguma forma de divindade que devem ser idolatrados pelos seus admiradores ou temidos por seus inimigos? E o que são as residências ou as relações amorosas de hoje em dia senso uma forma das pessoas se isolarem dos outros como forma de sentirem-se protegidas?
Quem não aprende com os erros si passado tende a tornar a repeti-los. A pessoas não percebem que mudam os atores mas os personagens e a história continua a mesma. Continuam a pensar que podem e eternizar através da fama ou se proteger através do isolamento. A fama é passageira e as fortalezas sempre são invadidas por inimigos externos ou caem por rebeliões internas.
Não adianta alguém achar que dia beleza abrirá as portas para ela indefinidamente, que o dinheiro lhe trará a tão sonhada paz duradoura e uma relação a protegerá de todos os males do mundo. Endeusar a si próprio causa a própria ruína, assim como isolar-se só faz adiar o inevitável. Ao invés disso, deve-se criar alianças fortes para sobreviver aos períodos de turbulências e se for para endeusar alguém, equipe seja um Deus eterno e verdadeiro

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